quarta-feira, 15 de outubro de 2008
goteira
escorreguei gotejando feito
chuva nas pedras do incompreendido
vãos entremeios do ignorar
há cura para o cansaço
é o sussurro seu no meu ouvido
é a mentira que me conta
já não corro da chuva, da nuvem cinza
nem da esperança que me cega
ainda tenho olhos esbugalhados
eles passam entre seus dedos
como as contas do rosário
de minha avó em devoção
lembro-me ainda do choro
de meu reflexo no seu olho
conjugações não me emocionam
só as gotas
distante me faz ler poesias
e tento reescrevê-las num ato falho
as lágrimas amargas falham em face vazia
jamais tentei o distanciamento
e até orei meu abismo aos bárbaros
que caçoaram de mim
e se consegue ver-me em seus olhos
fure-os na ira da gota
não estou pronta para nós.
domingo, 5 de outubro de 2008
derradeiro
finda com o beijo
na testa ou lá
à beira impotente
o desejo que guardava sem mim
morde a fronha e sonha
que decadente!
consuma urgente
meu cheiro de jasmim
e seja encontro
de delicadezas do desamar
que de tanto amar-te,
tonto amar-te,
mar morto, náufrago
e saiba que enjoada, cá
navegarei, navegarei
meio descontente
com o que sobrou
mas, já vai tarde
tarde!
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