quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Ampulheta cega























Grãos na cintura passam cálidos
Ah, hora, é fissura no furo da proa
Idolatra Argos e hinos vãos, entoa
Crê, mesmo tendo olhos inválidos

Nunca lambeste o tempo em estado,
Ah, areia, é volátil, pelo centro escoa
Impunemente, a pária lasciva ecoa,
Como milhões de pingos sem reinado,

À primeira vista se apresenta formosa,
Naquela luta do não esvair-se pela greta,
Ao fazer-se livre, alforriada, jaz saudosa

Cada minuto manco traz uma muleta,
A jura presa em promessa duvidosa
Que fere, mata nessa imutável roleta

quarta-feira, 1 de agosto de 2007























Depois que parti de mim
Escrevo cartas intensas
Sem fim
Rabiscos tortos
Inúteis
E essa casca
Convalescente
Insiste em gritar,
Chorar, sofrer,
Clamar pelo que já fui
Mas esse que observa
Já não quer mais voltar
Busca ainda seu rumo
Está preso a esse tema
Fatídico e ignóbil
Como as canções repetidas
Em semi tom
Não mais
Não mais.
a vida me prende em laços asfixiantes
não engana-me com sua primaveril
só me rasga em seu leito de inverno
com a evidente certeza
que me entregarei
que me entregarei
aos seus beijos que cheiram flores
e causam-me estranheza
transfiguram o medo
a angústia lasciva
o fluxo e refluxo
de uma atenção entregue
à sebe do jardim.