enquanto viva
cedi aos ardores da carne
e da palavra estuque
por não ser pedra
vertente desaforada
labirinto de tímpanos torpes
e clarevidência disforme
na retórica inflamada
enquanto morta
entalharam-me em cera
para que o semblante
parecesse vivo
boca torta, noite escura
sem porta, nem dentadura
só a ditadura do silêncio
nula e crua em sonhos de papel
ergueram-me sobre um andor
que aponta para o topo do porém
tiraram-me a língua como castigo
por não me calar, como convém.